Quiná

O quiná é um género musical dos angolares, grupo sociocultural originário do Sul da ilha de São Tomé. O instrumento musical utilizado para a execução de quiná, chamado guipá (ou n’guipá), é tocado exclusivamente nesta manifestação musical. O guipá é construído de um tronco de madeira e parece-se com uma pequena canoa. Tem um reco-reco (canzá) fixado com os fios na parte superior do objeto. O tocador fica sentado no próprio instrumento e executa o ritmo, utilizando uma vara.

Todos os grupos que executavam a manifestação musical, constituída pelo canto e pela dança, utilizavam o mesmo tipo de traje, composto pelos dois elementos principais: andala e kabungu (1). Kabungu é o pano que homens amarram na cintura e as mulheres colocam na cintura e no peito. Os participantes tinham, ainda, as andalas de palmeira, chamadas dômbo, amarradas na cabeça, nos braços, nas pernas. As pessoas dançavam à volta do guipá. Os homens empunhavam catanas de madeira na mão. Um deles, o cantor principal, era responsável pela intonação da melodia, começava a cantar e, de seguida, os outros membros do grupo respondiam em coro. Em vários quinás, o ritmo não mudava muito e, também, a melodia não apresentava variações significativas. O que mudava e exigia ensaios prévios eram as letras das músicas. Estas variavam de grupo para o grupo e eram sempre atualizadas, servindo como forma de expressar a visão sobre uma dada situação social ou dar conselhos à jovem geração.

As atuações demoravam, normalmente, uma a duas horas, mas havia, também, situações em que a quiná era dançada pela noite fora, até ao amanhecer. Dissociada de ocasiões ou festividades específicas, era executada sempre que havia algum motivo para uma festa ou um encontro dos angolares.

Todos os angolares do Sul dançavam quiná. Antigamente, além de São João dos Angolares, existiam os grupos de quiná em Porto Alegre e Ribeira Peixe, que há alguns anos estão inativos. Na Rádio, encontra-se uma bobine com a gravação do grupo de quiná da Praia Melão em Pantufo, o que permite supor que a manifestação se deslocou junto com os seus intérpretes, que migraram para esta zona. Atualmente estão ativos os grupos de São João dos Angolares e de Ribeira Afonso (2).


(1) Opto por esta grafia após a consulta a Ninho Anguené, cantor de São João dos Angolares a viver em Portugal.

(2) A existência de outros grupos de quiná – tanto atualmente, como no passado – noutras partes da ilha, habitadas pelos angolares, carece de confirmação.


Entrevistas

Entrevista 32.2017, Lisboa, 12.05.2017

Entrevista 50.2019, São Tomé, 26.01.2019

Entrevista 65.2019, São João dos Angolares, 23.09.2019


Fontes

Arquivo da Rádio Nacional de São Tomé e Príncipe


Bibliografia

Chambel, Magdalena Bialoborska (2022), Dêxa puíta sócó(m)pé. Música em São Tomé e Príncipe: do colonialismo à independência, Lisboa, Centro de História da Universidade de Lisboa.